Rosa Maria Paulino

7 min

Dez passos para quitar suas dívidas e sair do vermelho

Quando se trata de sair
 
do vermelho, não existe nenhuma fórmula mágica que funcione para todo mundo. Se
 
você estiver enfrentando essa situação no momento, console-se, você não está
 
sozinho. O IPEA (Instituto de Pesquisa
 
Econômica Aplicada) divulgou recentemente que cerca de 50% dos brasileiros
 
estão endividados e, para alguns desses brasileiros, a dívida pode chegar a
 
cinco vezes o valor de sua renda mensal!

A boa notícia é que é
 
possível sair desse buraco aparentemente sem fundo. A má notícia é que vai ser
 
preciso esforço e muita disciplina para sair do vermelho e uma disciplina maior
 
ainda para continuar fora dele. Ainda animado para mudar sua relação com o
 
dinheiro? Ótimo! Os dez passos abaixo vão guiá-lo até a luz no fim do túnel.

Passo 1: Tenha um orçamento doméstico

Você já sabia disso mas
 
agora, é para valer. Você precisa ter uma orçamento doméstico, por mais simples
 
que ele seja. Liste todas as suas despesas e todas as suas receitas. Não se esqueça
 
de incluir dívidas, impostos e as despesas esporádicas como seguro do
 
automóvel, IPVA, etc. Essa é a única maneira de saber tudo o que tem para
 
pagar, quanto dinheiro terá para pagar essas despesas e avaliar onde e como
 
está gastando seu dinheiro.

Passo 2: Saiba o tamanho da encrenca

Esta é possivelmente a
 
pior parte de todo o processo de sanar suas dívidas – descobrir quanto você
 
deve. Faça uma lista com tudo o que
 
estiver com pagamento atrasado: cartões de crédito, contas da casa, contas
 
médicas, prestações, carnês, cheque especial, saldo negativo no banco, etc.
 
Para cada item da lista, coloque o valor do pagamento mensal, taxa de juros e o
 
total devido. Atualize essa lista mensalmente, à medida que for abatendo parte
 
da dívida. Você vai se sentir muito bem ao ver o saldo final ficar menor a cada
 
mês.

No caso das dívidas sobre
 
as quais incidem multas e juros, como cartões de crédito, prestações, etc,
 
contate a instituição e peça um levantamento – por escrito – com o detalhamento
 
da dívida: valor principal, juros e quaisquer outras taxas cobradas. Isso é
 
necessário porque é comum que instituições financeiras incluam taxas de
 
cobrança ou advocatícias que não fazem parte da dívida original. Além disso,
 
esses documentos fornecidos pelos credores podem ser úteis, em caso de uma
 
disputa judicial.

Se você precisar, peça
 
ajuda a alguém que conheça o assunto ou procure os órgãos de proteção ao
 
consumidor, como o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) ou o
 
Procon. Pronto, por pior que seja o cenário, ele agora é conhecido e você tem
 
um ponto de partida para voltar ao azul.

Passo 3: Corte seus gastos

Como você já imaginava,
 
não dá para falar em pagar dívidas gastando a mesma coisa que levou você até
 
elas. Classifique as despesas que você incluiu em seu orçamento doméstico em 3
 
categorias: imprescindíveis (alimentação, aluguel, água, luz, mensalidade escolar,
 
etc.); desejáveis (academia, TV a cabo, assinatura de jornal, etc.) e
 
supérfluas (cinema, restaurantes, viagens, etc.). Não preciso dizer que cabe a
 
cada um definir o que é imprescindível, desejável ou supérfluo, de acordo com
 
seu estilo de vida, mas se você incluir tudo no item imprescindíveis, o
 
caminho para a recuperação vai ser muito, muito árduo!

Começando pelos itens
 
supérfluos e prosseguindo para os desejáveis e imprescindíveis, decida quais
 
deles podem ser eliminados. Você pode alugar DVDs ao invés de ir ao cinema. Por
 
que não cancelar a academia, onde você não vai há dois meses? É possível vender
 
um dos carros e viver com um carro só? Se não puder cortá-los totalmente, como
 
é provavelmente o caso dos itens imprescindíveis, encontre maneiras de pelo
 
menos reduzir o total gasto. É possível encontrar um apartamento com aluguel
 
mais baixo? Encontrar maneiras de reduzir o consumo de energia elétrica?

Corte o máximo possível
 
em todas as categorias mas um conselho: permita-se alguns itens de lazer que
 
custem pouco. Quase ninguém consegue viver sem atividades sociais ou
 
recreativas pelo tempo necessário para se livrar de todas as dívidas.

Passo 4: Tente parar o sangramento

Quando suas dívidas
 
mensais são apenas levemente superiores à sua receita no período, é possível
 
recuperar sua saúde financeira com o uso de disciplina, mas sem medidas
 
extremamente severas. Situações críticas, entretanto, podem exigir um curso de
 
ação mais drástico e imediato. Se tiver investimentos, resgate-os para quitar
 
suas dívidas em parte ou na totalidade. É muito pouco provável que o retorno
 
financeiro de suas aplicações superem as taxas de juros que incidem sobre
 
cartões de crédito ou cheque especial. Se não possuir investimentos, considere
 
vender outros ativos, como veículos ou imóveis de lazer. Essa é uma maneira
 
drástica mas efetiva de reduzir o sangramento representado pelo pagamento de
 
juros sobre juros aplicados sobre o total devido ou até mesmo de evitar a perda
 
definitiva de algum bem.

Passo 5: Renegocie o valor da dívida

Contate seus credores e
 
convença-os de que deseja quitar sua dívidas mas precisa de ajuda para fazê-lo.
 
Este não é o momento para se sentir constrangido – você e metade do mundo estão
 
tendo dificuldades em fazer o dinheiro chegar ao final do mês. Isso se você
 
ainda estiver empregado. As instituições financeiras estão acompanhando a
 
situação econômica global e estão sensibilizadas – ou no mínimo acostumadas –
 
com a situação de pessoas como você, o que as torna dispostas a negociar para
 
receber pelo menos em parte o que lhes é devido. Nesse cenário, é possível que
 
elas aumentem o número de parcelas, ofereçam descontos nos juros ou até mesmo
 
no valor do principal.

Ao negociar, avalie com
 
atenção se o que está sendo proposto é justo – mais uma vez, peça ajuda a
 
conhecidos ou órgãos de proteção ao consumidor. Se for justo, avalie se você
 
poderá arcar com o que está sendo proposto e leia com atenção as cláusulas do
 
contrato – de nada adianta uma excelente negociação se você não puder cumprir a
 
sua parte do acordo.

Passo 6: Troque sua dívida por outra melhor

Para a maioria das
 
pessoas endividadas, o cartão de crédito ou cheque especial aparece no topo da
 
lista de valores devidos – seja pelo montante representado, seja pelo valor das
 
taxas de juros cobradas, normalmente absurdamente altos.

Se você tiver seguido a
 
recomendação anterior e tentado renegociar sua dívida, deve ter percebido que
 
as administradoras de cartão de crédito raramente aceitam uma renegociação e
 
preferem que você continue pagando o valor mínimo da fatura. Essa é a pior
 
coisa a fazer com esse tipo de dívida. Pesquise as taxas de juros cobradas
 
pelas várias instituições e obtenha um empréstimo pessoal com o banco que
 
praticar as menores taxas. Ao comparar as taxas, leve também em consideração as
 
tarifas envolvidas no processo, como a de abertura de crédito, por exemplo.
 
Dessa forma, você estará trocando uma dívida de custo altíssimo como a do
 
cartão de crédito ou cheque especial por outra de custo bem mais barato. Se for
 
o caso, use parte desse empréstimo para pagar todas as dívidas cujas taxas de
 
juros sejam superiores às do empréstimo contratado.

Passo 7: Evite seus maiores inimigos

Para muitas pessoas, o
 
limite de gastos mensais é o limite imposto pela administradora do cartão de
 
crédito e não pelo seu salário. E com taxas de juros que passam frequentemente
 
de 150% ao ano, entrar no crédito rotativo – aquele sistema em que você paga o
 
valor mínimo ou um valor menor do que o total da fatura – pode fazer com que em
 
pouco tempo você esteja devendo o dobro do que gastou.

Pense no cartão de
 
crédito como uma forma de comprar agora para pagar em até 30 dias algo cujo
 
valor você poderia pagar integralmente neste momento sem abrir um buraco em
 
suas finanças. Se você não tiver condições de gastar esse dinheiro agora,
 
como conseguirá arcar com essa despesa no futuro? Parcelar no cartão, mesmo sem
 
juros, também não é uma boa idéia, porque no mês que vem você não vai resistir
 
ao celular que pode ser parcelado em 3 vezes, sem lembrar que já existem
 
parcelas de outras compras irresistíveis feitas no meses anteriores.

O cartão de crédito pode
 
ser uma ferramenta muito útil. Algumas situações requerem cartão de crédito,
 
como a reserva de hotéis, por exemplo. Além disso, pagar tudo com cartão de
 
crédito permite centralizar o pagamento de seus gastos em datas específicas do
 
mês, o que facilita seu planejamento financeiro. Isso sem falar na
 
possibilidade de juntar milhas e trocá-las por viagens ou outros tipos de benefícios.
 
Mas, considerando os riscos envolvidos, ele só deveria ser usado por quem
 
entende que só deve gastar no cartão aquilo que pode pagar na data do
 
vencimento da fatura. Usá-lo com
 
inteligência, checando seu extrato semanalmente para manter seus gastos dentro
 
do que você pode pagar e pagando o valor total da fatura na data de vencimento,
 
é o ideal, mas nem todo mundo tem a disciplina necessária para fazê-lo.

Você não faz parte desse
 
grupo de pessoas? Cancelar seus cartões de crédito é uma saída para quando o
 
saldo devedor começar a fugir ao controle. Algumas vezes e para muitas pessoas,
 
a única saída.

Passo 8: Mude sua relação com o dinheiro

Adote novos
 
comportamentos com relação ao dinheiro. Ao considerar novos gastos, pense em
 
termos de quantas horas ou dias de trabalho esse item representa e avalie
 
quantas horas de trabalho você trocaria por aquela TV que gostaria de comprar:
 
10, 30, 50? Trocar o fator dinheiro pelo fator tempo de trabalho pode mudar
 
completamente seus hábitos de consumo. Se ainda assim você quiser ir adiante,
 
considere adiar a compra até ter economizado o valor necessário para pagar o
 
bem à vista e com desconto.

Passo 9: Crie um fundo de emergência

Isso parece utopia nesta
 
altura do campeonato, mas lembre-se de que se você tivesse uma reserva
 
financeira lá atrás, talvez não se encontrasse nessa situação agora. Assim que
 
for possível, comece a poupar uma quantia todos os meses para formar um fundo
 
de emergência. Use receitas extras, como o 13º. Salário ou a devolução do
 
Imposto de Renda. O fundo de emergência serve para cobrir despesas – como o
 
nome já diz – emergenciais de curto prazo e lhe dar a segurança de saber que
 
está preparado para lidar com imprevistos sem se afogar em dívidas. Quando seu
 
fundo de emergência atingir o equivalente a 6 meses de despesas mensais, comece
 
a poupar para o longo prazo. Invista parte de todo aumento de salário, antes
 
que se acostume com o novo padrão financeiro.

Passo 10: Comemore!

Aprenda
 
a comemorar a cada vez que uma dívida for quitada. Torne esse processo, se não
 
divertido, ao menos gratificante. Retomar o controle de sua vida financeira
 
pode ser um desafio, mas nada se compara à sensação de ver seu extrato bancário
 
passar do vermelho para o azul e saber que você se tornou uma pessoa capaz –
 
pelo menos no que se refere a dinheiro – de fazer escolhas mais sensatas no
 
futuro.

Esta informação tem caráter educativo apenas. Procure a orientação de um consultor financeiro antes de tomar suas decisões de investimentos.

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